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AUTORES

Educação literária do 5.º ano: Alves Redol

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Alves Redol, o escritor de Vila Franca de Xira. Esta publicação tem como objetivo aprofundar o saber sobre o autor de A vida mágica da sementinha, obra lida atualmente no 5.ºano de escolaridade, no âmbito da educação literária.

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Em Vila Franca de Xira, perto de Lisboa, há um edifício dedicado à cultura, com destaque para o movimento literário e artístico que marcou o século passado: o Neorrealismo, do qual Alves Redol foi um dos iniciadores com a sua obra Gaibéus, que alcançou ampla aceitação.

O leitor pode aceder a dois documentários relevantes sobre a vida e obra nas ligações abaixo:

 

  • Alves Redol, vida e obra – 1.ª parte;

 

https://ensina.rtp.pt/artigo/alves-redol-1-a-parte/

 

  • Alves Redol, vida e obra – 2.ª parte.

 

https://ensina.rtp.pt/artigo/alves-redol-2-a-parte/

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João Pedro Mésseder   tem vários poemas sobre o livro. Vamos conhecê-lo um pouco na primeira pessoa…

 

 

 

 

 

 

 

 

Antes de 1974, era um jovem estudante rebelde: lutava contra o fascismo do Salazar e do Marcelo Caetano, quer dizer, lutava contra a guerra nas colónias de África, contra a existência de presos políticos e contra a falta de liberdade e democracia no nosso país. Cruzando-me com muita, muita gente nas ruas, participei na Revolução do 25 de Abril e esses anos de 1974 e 75 foram os melhores da minha vida.

Ainda hoje preciso de fazer política. Ao lado dos mais pobres e injustiçados. Sempre. E quero dizer que estou de acordo com o Saint-Exupéry, quando ele afirma que os dois grandes inimigos da alma são o dinheiro e a vaidade.

Entretanto, continuei a envelhecer - que é o que todos nós fazemos, todos os dias. Casei com uma linda rapariga loira e tive dois filhos mais ou menos loiros: o Miguel e a Inês.

O que faço para ganhar «o pão-nosso de cada dia»? Dou aulas de literatura a futuros professores (os meus alunos são jovens adultos).

Mas, acima de tudo, gosto de ler, ouvir música, ir ao cinema, viajar. Os meus países favoritos são a Itália, a Grécia, Cuba, a França, a Espanha e o Alentejo (é verdade, é: embora seja uma região de Portugal, para mim o Alentejo é um país à parte).

Os meus melhores amigos são a Elisa e o Zé - porque, além da minha família, são as melhores pessoas que conheci em toda minha vida.

Ah, ia-me esquecendo de dizer que já escrevi diversos livros, sobretudo de poesia. Para crianças, jovens e adultos. A minha editora principal é a Caminho, de Lisboa.

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Recordar Sophia no Centenário do seu nascimento

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Caro aluno, caro leitor!

Sophia de Mello Breyner Andresen foi uma das mais importantes poetisas portuguesas do século XX e foi a primeira mulher portuguesa a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa, o Prémio Camões, em 1999.

Algumas das suas obras, sobretudo em prosa, continuam, como sabes, a ser objeto de estudo nos programas de Português.

Esta publicação é a forma de fazermos homenagem à escritora, sobretudo a poetisa.

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Comecei a escrever…

Comecei a escrever numa noite de Primavera, uma incrível noite de vento leste e Junho. Nela o fervor do universo transbordava e eu não podia reter, cercar, conter – nem podia desfazer-me em noite, fundir-me na noite. 
No gume da perfeição, no imenso halo de luz azul e transparente, no rouco da treva, na quási palavra de murmúrio da brisa entre as folhas, no íman da lua, no insondável perfume das rosas, havia algo de pungente, algo de alarme.
Como sempre a noite de vento leste misturava êxtase e pânico.

A infância…


Foi ótima, graças a Deus. Graças ao meu pai e à minha mãe, ao mar, às praias.

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Uma poeta muito pouco preocupada consigo própria…

(…) era uma poeta muito pouco preocupada consigo própria. Se reparar, ela escreve muito pouco sobre si, antes sobre o mundo, as coisas que a deslumbram, as que a inquietam e as que a indignam, e desse modo foi ao nosso encontro. Quando olho para a literatura dela, vejo a pessoa que conheci. Ou seja, mesmo pensando que se pode dizer isto sobre todos os escritores, ninguém teria escrito determinada obra se não fosse a pessoa que era. Mas ninguém pode escrever poesia como a dela, até pode escrever muito melhor, mas será sempre diferente porque não olhou para as coisas do mundo com a atenção que ela lhes deu desde sempre.

Miguel Sousa Tavares, filho de Sophia

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Os lugares privilegiados para a poesia…

 


Escrevi imensos poemas na Granja, no meu quarto no Porto, foram os primeiros. Em Delfos, em muitos sítios.

(…) eu dou-me maravilhosamente na praia, gosto muito do mar.

São muito o mar e a praia. Chegar a uma praia dá-me sempre uma certa embriaguez. Além disso a praia lava-me, renova-me, recria-me, fisicamente, moralmente, espiritualmente.

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Teixeira de Pascoaes, poeta português, escreveu a Sophia em nome da amizade e da admiração que nutriam um pelo outro

A Sofia Breyner

Ó Nereide a cantar

Ao som da lira!

Entre as ondas e as nuvens!

Através dos teus versos

O mar palpita

E todos os reflexos

Do sol nas vagas

Em que fulgura

A origem mítica da vida.

Deusa oceânica

Líquida estátua,

Fada em nuances

De luz,

E transparências ondulantes…

E nos deslumbra, e foge!

Sempre a fugir, e a deslumbrar-nos!

Sempre a fugir, e a deslumbrar-nos!

Sempre, diante de nós

E no horizonte

Só água e céu…

 

 

Outros poetas escreveram poemas a Sophia, em vida, como Eugénio de Andrade, António Ramos Rosa, Pedro Homem de Melo, Alberto Lacerda e Jorge de Sena.

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Poema de Jorge de Sena a Sophia

Musa ensina-me o canto

 

Musa ensina-me o canto
Venerável e antigo
O canto para todos
Por todos entendido

Musa ensina-me o canto
O justo irmão das coisas
Incendiador da noite
E na tarde secreto

Musa ensina-me o canto
Em que eu mesma regresso
Sem demora e sem pressa
Tornada planta ou pedra

Ou tornada parede
Da casa primitiva
Ou tornada o murmúrio
Do mar que a cercava

(Eu me lembro do chão
De madeira lavada
E do seu perfume
Que atravessava)

Musa ensina-me o canto
Onde o mar respira
Coberto de brilhos
Musa ensina-me o canto
Da janela quadrada
E do quarto branco

Que eu possa dizer como
A tarde ali tocava
Na mesa e na porta
No espelho e no corpo
E como os rodeava

Pois o tempo me corta
O tempo me divide
O tempo me atravessa
E me separa viva
Do chão e da parede
Da casa primitiva

Musa ensina-me o canto
Venerável e antigo
para prender o brilho
Dessa manhã polida
Que poisava na duna
Docemente os seus dedos
E caiava as paredes
Da casa limpa e branca

Musa ensina-me o canto
Que me corta a garganta

Sophia de Mello Breyner Andresen

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Versos seletos da Obra Poética de Sophia Andresen

 

Há cidades acesas na distância,
Magnéticas e fundas como luas,
Descampados em flor e negras ruas
Cheias de exaltação e ressonância.

Há cidades acesas cujo lume
Destrói a insegurança dos meus passos,
E o anjo do real abre os seus braços
Em nardos que me matam de perfume.

E eu tenho de partir para saber
Quem sou, para saber qual é o nome
Do profundo existir que me consome
Neste país de névoa e de não ser.

in Poesia, 1944

 

 

Inventei a dança para me disfarçar.
Ébria de solidão eu quis viver.
E cobri de gestos a nudez da minha alma
Porque eu era semelhante às paisagens esperando
E ninguém me podia entender.

in Coral, 1950

 

 

Iremos juntos sozinhos pela areia
Embalados no dia
Colhendo as algas roxas e os corais
Que na praia deixou a maré cheia.

As palavras que disseres e que eu disser
Serão somente as palavras que há nas coisas
Virás comigo desumanamente
Como vêm as ondas com o vento.

O belo dia liso como um linho
Interminável será sem um defeito
Cheio de imagens e conhecimento.

in No Tempo Dividido, 1954

 

 

A Solidão

A noite abre os seus ângulos de lua
E em todas as paredes te procuro

A noite ergue as suas esquinas azuis
E em todas as esquinas te procuro

A noite abre as suas praças solitárias
E em todas as solidões eu te procuro

Ao longo do rio a noite acende as suas luzes
Roxas verdes azuis.

Eu te procuro.

 

in Cristo Cigano, 1961

 

 

Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei

Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso

Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo

Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento

in Livro Sexto, 1962

 

Poema de Sophia a um dos seus amigos poetas do Brasil, Manuel Bandeira

 

Manuel Bandeira


Este poeta está
Do outro lado do mar
Mas reconheço a sua voz há muitos anos
E digo ao silêncio os seus versos devagar

Relembrando
O antigo jovem tempo quando
Pelos sombrios corredores da casa antiga
Nas solenes penumbras do silêncio
Eu recitava
«As três mulheres do sabonete Araxá»
E minha avó se espantava

Manuel Bandeira era o maior espanto da minha avó
Quando em manhãs intactas e perdidas
No quarto já então pleno de futura
Saudade
Eu lia
A canção do «Trem de ferro»
E o «Poema do beco»

Tempo antigo lembrança demorada
Quando deixei uma tesoura esquecida nos ramos da cerejeira
Quando
Me sentava nos bancos pintados de fresco
E no Junho inquieto e transparente
As três mulheres do sabonete Araxá
Me acompanhavam
Tão visíveis
Que um elétrico amarelo as decepava

Estes poemas caminharam comigo e com a brisa
Nos passeados campos da minha juventude
Estes poemas poisaram a sua mão sobre o meu ombro
E foram parte do tempo respirado

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Com Agustina Bessa-Luís e Eugénio de Andrade
Sophia e Miguel Torga

Caminho da manhã

Vais pela estrada que é de terra amarela e quase sem nenhuma sombra. As cigarras cantarão o silêncio de bronze. À tua direita irá primeiro um muro caiado que desenha a curva da estrada. Depois encontrarás as figueiras transparentes e enroladas; mas os seus ramos não dão nenhuma sombra. E assim irás sempre em frente com a pesada mão do Sol pousada nos teus ombros, mas conduzida por uma luz levíssima e fresca. Até chegares às muralhas antigas da cidade que estão em ruínas. Passa debaixo da porta e vai pelas pequenas ruas estreitas, direitas e brancas, até encontrares em frente do mar uma grande praça quadrada e clara que tem no centro uma estátua. Segue entre as casas e o mar até ao mercado que fica depois de uma alta parede amarela. Aí deves parar e olhar um instante para o largo pois ali o visível se vê até ao fim. E olha bem o branco, o puro branco, o branco da cal onde a luz cai a direito. Também ali entre a cidade e a água não encontrarás nenhuma sombra; abriga-te por isso no sopro corrido e fresco do mar. Entra no mercado e vira à tua direita e ao terceiro homem que encontrares em frente da terceira banca de pedra compra peixes. Os peixes são azuis e brilhantes e escuros com malhas pretas. E o homem há de pedir-te que vejas como as suas guelras são encarnadas e que vejas bem como o seu azul é profundo e como eles cheiram realmente, realmente a mar. Depois verás peixes pretos e vermelhos e cor-de-rosa e cor de prata. E verás os polvos cor de pedra e as conchas, os búzios e as espadas do mar. E a luz se tornará líquida e o próprio ar salgado e um caranguejo irá correndo sobre uma mesa de pedra. À tua direita então verás uma escada: sobe depressa mas sem tocar no velho cego que desce devagar. E ao cimo da escada está uma mulher de meia idade com rugas finas e leves na cara. E tem ao pescoço uma medalha de ouro com o retrato do filho que morreu. Pede-lhe que te dê um ramo de louro, um ramo de orégãos, um ramo de salsa e um ramo de hortelã. Mais adiante compra figos pretos: mas os figos não são pretos: mas azuis e dentro são cor-de-rosa e de todos eles corre uma lágrima de mel. Depois vai de vendedor em vendedor e enche os teus cestos de frutos, hortaliças, ervas, orvalhos e limões. Depois desce a escada, sai do mercado e caminha para o centro da cidade. Agora aí verás que ao longo das paredes nasceu uma serpente de sombra azul, estreita e comprida. Caminha rente às casas. Num dos teus ombros pousará a mão da sombra, no outro a mão do Sol. Caminha até encontrares uma igreja alta e quadrada.

Lá dentro ficarás ajoelhada na penumbra olhando o branco das paredes e o brilho azul dos azulejos. Aí escutarás o silêncio. Aí se levantará como um canto o teu amor pelas coisas visíveis que é a tua oração em frente do grande Deus invisível.

in Livro Sexto, 1962

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A voz sobe os últimos degraus
Oiço a palavra alada impessoal
Que reconheço por já não ser minha

 

                                                 Último poema de Ilhas, 1989

 

Para o Portugal do novo século…

Gostaria que se realizasse a justiça social, a diminuição das diferenças entre ricos e pobres. Mais justiça para os pobres.

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Fragmento do filme Sophia

José Saramago 

No ano de 2020, foi elevada à sétima arte mais uma obra de José Saramago: O ano da morte de Ricardo Reis (filme de João Botelho).

Sobre Lisboa

Apesar de ter apenas 13 anos em 1936, a minha lembrança do ambiente geral da cidade naquela época mantém-se bastante viva. Essa lembrança foi o pano de fundo de que me servi para fazer representar as minhas personagens. Mas a substância dos factos colhi-a nos jornais, principalmente "O Século", pelas características populares que sempre o distinguiram: enquanto o "Diário de Notícias" afirmava ser o jornal de maior tiragem, "O Século" desforrava-se dizendo ser o de maior circulação... Não só visitei o Hotel Bragança, na Rua do Alecrim, como escolhi o quarto - o 201 - em que iria alojar-se Ricardo Reis. Aos Prazeres fui também, claro. O resto teve de resolvê-lo a imaginação.

 

As personagens femininas: Lídia e Marcenda

 

Marcenda não é uma "personagem literária" de Reis, não é sequer um nome feminino com presença nos vocabulários onomásticos. A palavra aparece na ode "Saudoso já deste Verão que vejo" designando uma rosa emurchecida. Achei que estava a carácter com a "minha" personagem.

 

 

 

Quanto a Lídia, uma vez que me tinha proposto mostrar a Ricardo Reis o espetáculo do mundo, pensei que seria uma boa partida dar a uma criada de hotel o nome de uma das suas quase incorpóreas musas...

 

 

 

 

 

 

 

 

Da Entrevista com José Saramago, realizada por Adelino Gomes

 

 

 

 

 

 

 

Sinto-me múltiplo. Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.

 

Fernando Pessoa

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Atriz Victoria Guerra como Marcenda.jfif

Atriz Victoria Guerra como Marcenda

Catarina Wallenstein no papel de Lídia.jfif

Catarina Wallenstein no papel de Lídia

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